segunda-feira, setembro 23, 2013

And like that, poof. He's gone.



Um dia, este momento tinha de chegar.

À escassez de disponibilidade para actualizações regulares, soma-se a ausência, tanto pessoal como externa, de motivação para prosseguir este projecto.

Para já, reina o desapontamento por uma iniciativa em curso — «O Cinema dos Anos 2000» — não conhecer continuação nem o desfecho que merecia. Sobretudo, pela preciosa e muito qualitativa colaboração dos bloggers que aceitaram embarcar no convite que lhes efectuei. São eles os principais destinatários das minhas desculpas por esta decisão e da minha gratidão pelo tempo que consumiram a escrever no Keyzer Soze's Place.

Talvez outros projectos se formem no futuro, provavelmente darão por mim noutros locais da comunidade blogger cinéfila. Garantidamente, fica o arquivo de posts. E a certeza na omnipresença do Cinema.

Até sempre.




sexta-feira, julho 19, 2013

Hollywood Buzz #207

O que se diz lá fora sobre ONLY GOD FORGIVES, de Nicolas Winding Refn:



«The wallpaper emotes more than Ryan Gosling does in ONLY GOD FORGIVES, an exercise in supreme style and minimal substance.»
Peter Debruge, Variety.

«The movie is so devoid of emotion that its ritualized gore acts as a narcotic. Filmed in shades of red, with a minimal screenplay, ONLY GOD FORGIVES looks like a ghoulish fashion shoot in hell.»
Stephen Holden, The New York Times.

«ONLY GOD FORGIVES is a hypnotic fugue on themes of violence and retribution, drenched in corrosive reds.»
David Rooney, The Hollywood Reporter.

«It's a solemnly preposterous piece of designer revenge pulp, with actors who stand around bathed in red and blue light like David Lynch mannequins in between scenes of torture and murder.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«The movie is like one thin satiric lark inexplicably slowed down to the point of lethargy.»
Eric Kohn, indieWIRE.

terça-feira, julho 16, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Garden State, de Zach Braff




GARDEN STATE pertence a um tempo, a um lugar melancólico e sombrio, muito representante de uma adolescência irremediavelmente fatalista à procura de um sentido para uma vida diferente, mais promissora da ilusão de maturidade. Paralelamente, existe também um desejo de estagnação, ou, antes, dessa necessidade afim de evitar o derradeiro adimplemento: a convergência de contradições e a percepção de que a maturidade não é a tal ilusão idealizada, antes uma inevitabilidade.

Discutivelmente o indie por excelência da última década, a primeira obra de Zach Braff rege-se por valores anti-moralistas. O protagonista, Andrew Largeman, descobre a vida na ressaca da morte; o seu pai, afogado em sentimentos de culpa, implode emocionalmente; e Sam, a mentirosa compulsiva expõe a fragilidade que lhe é esperada sob um manto de quasi-originalidade para, de forma idealística, esconder o negrume da mortalidade que desesperadamente procura esquecer. No universo de Largeman, o tempo passa e com ele a linha de consciência desvanece-se naquele a que socialmente se convenciona de "mundo real". A aprendizagem é progressiva e o triunfo dá-se lá para o fim da película quando existe uma ruptura das convenções em detrimento de realismo. É esta palpabilidade que potencia a qualidade do escrito e que comprova o tacto de Braff a lidar com uma temática sobre-explorada no advento do indie norte-americano.

Pautado por uma primorosa e laureada banda-sonora, GARDEN STATE é hábil a manter o equilíbrio entre um humor que dói na alma e um romance envolto numa honestidade trágica. Para a história fica um momento no tempo, tão único e significativo quanto alguma vez o poderia ser. E nas palavras de Sam: "This is your one opportunity to do something that no one has ever done before and that no one will copy throughout human existence. And if nothing else, you will be remembered as the one guy who ever did this. This one thing." E foi exatamente isso que Braff fez.

por Filipe Coutinho (Cinema is my Life).

Elenco
. Zach Braff (Andrew Largeman), Natalie Portman (Sam), Peter Sarsgaard (Mark), Ian Holm (Gideon Largeman), Jean Smart (Carol), Armando Riesco (Jesse), Jackie Hoffman (Sylvia Largeman)


Palmarés
. Festival de Cinema de Estocolmo: Melhor Actor (Peter Sarsgaard)
. Independent Spirit Awards: Melhor Primeira Obra (Zach Braff)
. National Board of Review: Melhor Realizador Estreante (Zach Braff)



terça-feira, julho 09, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Homem em Fúria, de Tony Scott




A validade do conceito de abordagem autoral, no âmbito do filme de acção, está longe de ser consensual e de encontrar uma definição aproximadamente derradeira. Mas para essa hipotética análise, HOMEM EM FÚRIA constitui título de consulta obrigatória — um filme quase dividido em três arcos narrativo-temáticos (arrependimento, vingança e redenção) unificados pelo estilo corrosivo, frenético, saturado e impulsivo empregue pelo malogrado Tony Scott, que "arrasa" o poder cristalino da imagem em prol da imediata identificação das apetências formais muito singulares do seu realizador.

A figura torturada de Creasy (Denzel Washington, naquele registo que lhe é muito próprio mas sem nunca estar na vertigem do cliché) rege os preceitos de HOMEM EM FÚRIA. O seu passado duvidoso enquanto agente dos serviços secretos norte-americanos transformou-o num indivíduo embriagado, instável e de de sonhos agitados, estado que só parece encontrar serenidade quando é contratado como segurança privado da frágil Pita Ramos (num desempenho assertivo pela jovem Dakota Fanning). Pouco tempo depois de iniciar funções e formar uma improvável amizade com a menina, Pita é sequestrada e anunciada como morta às mãos de uma rede especializada em rapto e resgate. Tal desenvolvimento impele Creasy a encetar uma autêntica cruzada vingativa, pautada por aquele discurso em que ele promete matar «todos os que estiveram envolvidos, todos os que lucraram com isto, qualquer um que se atreva a olhar-me da forma errada».

Partindo deste enlace de obra de pura e simples retaliação, HOMEM EM FÚRIA apresenta mais originalidade na sua composição visual do que na narrativa (inspirada, ressalve-se, num romance previamente adaptado ao Cinema em 1987). Expondo todo o flair técnico de Tony Scott — a quem foi, só após a sua morte, atribuído o estatuto de "pintor de acção" —, eis um filme que não hesita em enveredar pelo experimentalismo no seio de um dos géneros menos propensos a tal, formulando uma imagética radical, obtida através da manipulação na própria mecânica da câmara de filmar, que se associa irremediavelmente às memórias e sentimentos, em torno das suas personagens e emoções, gerados pelo espectador logo a seguir à sua visualização.

HOMEM EM FÚRIA é, portanto, acção em inflamado e visceral estado de experiência sensorial, num percurso estético que o realizador haveria de perpetuar em obras posteriores — com DOMINO (2005), DÉJÀ VU (2006) e a curta publicitária BEAT THE DEVIL (2002) em plano de destaque — que as avaliações pública e crítica do Cinema dos Anos 2000 teimaram em não louvar.

por Samuel Andrade.

Elenco
. Denzel Washington (John W. Creasy), Dakota Fanning (Lupita 'Pita' Martin Ramos, Marc Anthony (Samuel Ramos), Radha Mitchell (Lisa Martin Ramos), Christopher Walken (Paul Rayburn), Giancarlo Giannini (Miguel Manzano), Rachel Ticotin (Mariana Garcia Guerrero), Mickey Rourke (Jordan Kalfus)


Sobre Tony Scott

Tal como o seu irmão, Ridley Scott, Tony evidenciou-se pelos seus filmes de acção onde a composição visual é motivo de instantânea atracção e notoriedade. Da sua filmografia, salientam-se FOME DE VIVER (1983), TOP GUN — ASES INDOMÁVEIS (1986), DIAS DE TEMPESTADE (1990), AMOR À QUEIMA-ROUPA (1993) e MARÉ VERMELHA (1995).



quinta-feira, julho 04, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Colateral, de Michael Mann




Entre o ritmo pulsante e a acção contida, mas vibrante, está o grande trunfo deste filme. Obra que, a bem dizer, é coerente e identificativa dos traços de Michael Mann, o artífice por detrás das câmeras e o homem que é capaz de filmar a cidade e a sua noite com uma personalidade invejáveis. A reboque das personagens e das suas convicções, somos conduzidos para uma trama misteriosamente camuflada e à mercê de inúmeras metáforas, sempre envolta num clima de ansiedade e suspense, e segundo uma atmosfera irrequieta, vadia, que nunca dorme.

Num táxi entra um cliente, e na cidade entram dois destinos, dois flancos do mesmo campo mental, tal como na noite entramos nós, espectadores, à boleia com Mann e os seus permeáveis planos aéreos. De um lado, o taxista que planeia a vida, os seus sonhos, a sua família, o seu trabalho e as conquistas para o sucesso, do outro, o cliente, o vilão e o assassino que não cobiça qualquer futuro ou esforço algum em busca de um ideal caracterizado por signos e valores moralmente (e previamente) aceites. No seguimento, os (aparentes) opostos atraem-se e na necessária e inevitável confrontação os efeitos colaterais sobressaem-se e sobem à tona em electrizantes debates e em angustiantes combates (à boa maneira dos gangsters).

Temos, portanto, dois eixos numa mesma história, diametralmente distinguíveis, mas humanamente confusos e questionáveis, quase como se pudéssemos e tivéssemos a capacidade de enveredar por um ou por outro se tal fosse a nossa intenção, isto sem descrédito nenhum para o desenrolar dos acontecimentos, porque na verdade ambos os protagonistas têm algo de aliciante, de cativante, algo que nos diz respeito e com que nos identificamos. A competência do argumento neste aspecto é impecável, diga-se de passagem, embora a concretização ou as interpretações pudessem estar mais intensas (os actores apesar de tudo estão bem). A narrativa, essa, avança assim, desde a contenção à acção frenética e entusiasmante, sempre na cadência e tensão certas e sem grandes exageros ou montagens alucinantes (o que é de salutar).

A realização, por seu lado, está noutro patamar, tanto na vivacidade da pequena escala (ou do enredo propriamente dito), no carro — espaço confinado e expressivamente amplificado — ou até no metro, como na luminosidade e transparência da grande escala — Los Angeles — fabulosamente descrita e interpretada. Michael Mann é exímio neste retrato a três dimensões e em alta definição (dois intérpretes e uma cidade), ao arquitectar um gradual jogo de poder e de suspeita, incutindo simultaneamente a audiência a questionar, a duvidar e a reflectir sobre o que vê e o que não vê.

COLATERAL pode-se definir como um cruzamento de duas vidas, de duas jornadas, que na colisão dissipam belas sequências de diálogo e de acção exemplar e lateralmente filmadas na vivência urbana e nocturna de L.A., mas, sobretudo, conservam um rol de dúvidas e receios pessoais que, no fundo, dizem respeito a todos nós como indivíduos e como sociedade. Cada consciência fará por si e para si tudo o que a motivará, tudo o que acreditará e necessitará e, aí, os dois protagonistas aqui em foco são uma mera amostra, são duas faces da mesma moeda, adequadamente encaixada num nível entre tantos outros e onde a realidade é bem mais estratificada e abrangente. Alicerçado então por diversas camadas de entendimento e envolvimento, o filme acaba por impressionar na medida em que converte um argumento interessante numa experiência admirável.

por Jorge Teixeira (Caminho Largo).

Elenco
. Tom Cruise (Vincent), Jamie Foxx (Max Durocher), Jada Pinkett Smith (Annie Farrell), Mark Ruffalo (Ray Fanning), Peter Berg (Richard Weidner), Bruce McGill (Frank Pedrosa), Irma P. Hall (Ida Durocher), Javier Bardem (Felix Reyes-Torrena)


Palmarés
. BAFTA: Melhor Fotografia (Dion Beebe, Paul Cameron)
. Festival de Veneza: Prémio Future Film (Michael Mann)
. Satellite Awards: Melhor Montagem (Jim Miller, Paul Rubell), Melhor Som (Lee Orloff, Elliott Koretz, Michael Minkler, Myron Nettinga)
. National Board of Review: Melhor Realizador (Michael Mann)
. Associação de Críticos de Los Angeles: Melhor Fotografia (Dion Beebe, Paul Cameron)


Sobre Tom Cruise

Representação máxima da definição contemporânea de star-system em Hollywood, a sua carreira tem conhecido a união entre o cinema comercial — sobretudo de acção, com ASES INDOMÁVEIS (1986, Tony Scott) e MISSÃO IMPOSSÍVEL (1996, Brian De Palma) em destaque — e desempenhos de profundo desenvolvimento psicológico — NASCIDO A 4 DE JULHO (1989, Oliver Stone) e MAGNOLIA (1999, Paul Thomas Anderson), ambos merecedores de nomeação ao Oscar. Títulos como NEGÓCIO ARRISCADO (1983, Paul Brickman), RAIN MAN — ENCONTRO DE IRMÃOS (1988, Barry Levinson), ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1994, Neil Jordan) e GUERRA DOS MUNDOS (2005, Steven Spielberg) cimentaram o seu estatuto actual.



terça-feira, julho 02, 2013

Julho na Cinemateca Portuguesa



«A programação de julho prossegue em modo variado, com a apresentação de filmes provenientes, na sua esmagadora maioria, da coleção da Cinemateca, de distintos registos, cinematografias e datas de produção, refletindo um olhar abrangente sobre a História do cinema e as suas múltiplas facetas.»

Programação completa.

segunda-feira, julho 01, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Noite Escura, de João Canijo




Antes do sucesso marcante de SANGUE DO MEU SANGUE (2011), NOITE ESCURA foi o mais importante filme de João Canijo e um dos mais brutais retratos de um Portugal sujo, sórdido, retrógrado e, para a maior parte de nós, escondido. A vida nas casas de alterne, cujo realizador pesquisou abundantemente, participando no filme algumas das alternadeiras que Canijo conheceu no processo, é concomitante com o Portugal retratado nos média, mas parece aqui um outro mundo, de violência e morte, de sordidez e redenção, de uma sobrevivência terrível e incestuosa em tons de vermelho escuro. Inspirado na Efigénia em Aulis de Eurípides, toda a sua ambiência de pesadelo é sustentada pelo aspecto lúgubre da casa de alterne, pela coexistência visual e sonora de campo e contracampo, pelos relatos reais que perpassam as cenas, pela interacção entre os tons de vermelho e negro e por um final exímio nos processos de catarse e pathos típicos da tragédia grega.

Coadjuvado pelo seu leque de actores tradicionais (Rita Blanco, Fernando Luís, Clélia Almeida), o mais parecido que temos com um grupo de actores à Fassbinder ou à Almodòvar, marca também o zénite, até ao momento, da carreira cinematográfica dessa fabulosa actriz que é Beatriz Batarda, aqui responsável por uma transfiguração que raras vezes (nunca?) vimos no cinema português. NOITE ESCURA era suposto ser o primeiro de uma trilogia de filmes sobre o Portugal profundo inspirada por tragédias gregas. Se o segundo filme foi em frente e redundou em MAL NASCIDA (2007), o terceiro, ao que se sabe sobre a máfia nacional, ficou por fazer, alegadamente por motivos orçamentais. Sobrou-nos este grande filme, dos melhores que Portugal viu na década passada.

por Miguel Domingues (Café e Cigarros, À Pala de Walsh e Letra 1).

Elenco
. Beatriz Batarda (Carla Pinto), Fernando Luís (Nelson Pinto), Rita Blanco (Celeste Pinto), Cleia Almeida (Sónia Pinto), Natalya Simakova (Irka), José Raposo (Nicolau)


Palmarés
. Globos de Ouro Portugal: Melhor Filme, Melhor Actriz (Beatriz Batarda)


Sobre João Canijo

Um dos cineastas portugueses mais versáteis da actualidade, a sua obra tem sido dedicada à observação das contingências sociais e psicológicas nacionais — o ênfase nas heroínas de FILHA DA MÃE (1990) e SANGUE DO MEU SANGUE (2011) —, com um olhar profundo sobre o passado — no documentário FANTASIA LUSITANA (2010) — e as vivências dos portugueses na diáspora — GANHAR A VIDA (2001).



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